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Brasileiros se dividem entre medo da Covid e sensação de liberdade com reaberturas

 Brasileiros se dividem entre medo da Covid e sensação de liberdade com reaberturas
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Em pé, com um drinque em mãos, o paulistano arrisca um passinho de dança na pista de alguma balada. A cena pode rememorar a um período pré-pandêmico distante, mas será permitida a partir desta segunda-feira (1º) em São Paulo -na data, também fica liberada a presença de público em pé em shows e estádios podem ter ocupação completa de torcedores.

Em meio ao avanço da vacinação e à queda no número de mortes, cenas assim aparecem em boa parte dos estados. No Rio de Janeiro, as medidas foram ainda mais flexibilizadas, e o uso de máscaras foi liberado ao ar livre.

Apesar da sensação de liberdade que muitos adquirem ao completarem o esquema vacinal contra a Covid-19, há ainda quem se sinta inseguro para sair na rua e siga com medidas de isolamento social. É o caso da decoradora Marcia Coppola, 62, que vive em São Paulo com a mãe Myrian, 92, e a irmã designer Viviane Coppola, 58.

Desde março do ano passado, elas não recebem pessoas no apartamento e todos os produtos que entram ali são higienizados. Marcia avalia que a vida enclausurada não é desagradável, mas confessa que os últimos seis meses foram mais estressantes, já que ela teve que equilibrar os cuidados domésticos com o trabalho, pois o trabalho da sua irmã voltou de forma presencial.

Ela também precisa visitar obras vez ou outra na semana e já fez algumas viagens a trabalho, mas ainda não se sente segura para ir a restaurantes ou lugares fechados, como shoppings e cinema.

“Quando saímos, a gente tenta não ficar perto da nossa mãe porque, apesar de ter tomado a terceira dose, a gente não quer que ela pegue [a Covid-19] de jeito nenhum”, diz Marcia, que conta que sua mãe só saiu de casa para tomar a vacina.

Agora, durante o feriado, ela vai tentar passear com a mãe de carro e, se a meteorologia permitir, pretende fazer o que de mais sente falta: ir à piscina do prédio e tomar sol -se o espaço estiver vazio, claro. Mas, ela avalia que apesar das restrições, foi um ano bom. “Para quem precisa trabalhar na rua [em meio à pandemia] é que foi horrível.”

A decoradora prevê que ficará mais tranquila para retomar as atividades presenciais quando receber a terceira dose do imunizante. “Acho que vai dar para relaxar algumas coisinhas e a rotina da casa não vai ficar tão pesada”, diz ela, que também quer voltar a abraçar as crianças que vivem em seu prédio.

Marcia não está sozinha. A redatora publicitária Elen Campos, 44, achava que quando recebesse a segunda dose do imunizante teria coragem para encontrar alguns amigos. As duas doses vieram, mas a coragem ainda não. Agora, o momento é de fazer planos, diz ela.

Por exemplo, em novembro pretende sair de casa para assistir a “Marighella” nos cinemas, mas tem lugar que ela ainda não cogita frequentar, como restaurantes, já que tem que tirar a máscara.

Além disso, já faz planos para escapar de São Paulo. O Carnaval de 2022 ela vai passar no Rio de Janeiro. “A pandemia começou com o fim do Carnaval e vai ter que terminar no começo do próximo”, diz. E promete um retorno triunfal. “Vou sair lambendo o corrimão”, brinca.

Os números em relação à vacinação acalmam Elen, mas ela afirma que a retomada está sendo bem mais lenta do que para a maioria. “O que as pessoas estavam fazendo há um ano, tô começando a fazer agora, isso de dizer ‘vou dar uma arriscadinha’.” Ela retornou à academia só em outubro, por exemplo.
Uma das poucas coisas que ela fez fora de casa, em meio à quarentena, foi dirigir até Belo Horizonte e ficar com a família. Lá conseguiu passar um tempo com o sobrinho de cinco anos que agora enfrenta o retorno às aulas presenciais -o pequeno foi o último da turma a retornar à sala.

“Foi como se fosse, de novo, o primeiro dia de aula”, diz a tia, que relata que o pequeno reclama que as aulas “demoram muito”. “É como se fosse um ritual de passagem, ele está reaprendendo a dividir brinquedos e a conviver com crianças, porque antes tinha a atenção de todos os adultos.”
Entre os que já encaram atividades fora de casa está o editor de vídeo Diogo Mendonça, 35. Mas isso não significa que a retomada a lugares antes triviais não tenha sido estranha.

Depois de um ano e sete meses longe de um shopping, ele teve que trocar uma peça de roupa em meados de outubro. A loja estava lotada e a experiência não foi das melhores. “Quando for repetir a dose, vou procurar horários mais alternativos”, registrou no Twitter.

A ida ao shopping foi a primeira saída sem finalidade essencial. “Foi uma espécie de visão de como era a vida pré-pandemia”, reflete ele, que, ao ver algumas pessoas com a máscara mal colocada, se sentiu, de certa forma, inseguro.

Dias depois do shopping, Mendonça foi ao parque Ibirapuera em um domingo de manhã. Lá conta ter usado outra estratégia: chegou mais cedo para aproveitar o ar livre e, quando começou a encher, decidiu ir embora.

Ele também relata que frequenta a casa de alguns amigos e, vez ou outra, vai a restaurantes e bares, mas sempre de olho na aglomeração. “Sinto mais medo durante o trajeto porque fico pensando o que pode acontecer, mas, quando você chega, senta, começa a conversar, comer e beber, fica natural.”
Mendonça agora tem dois planos a curto prazo: uma viagem à praia e uma ida ao cinema para aproveitar a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. “A exigência do comprovante da vacina me deixa mais tranquilo”, diz.

A estudante de direito Ketheny Zietlow, 24, que vive em Vila Velha (ES), também voltou a viver os imprevistos da vida presencial. Na última semana, com o preço da gasolina nas alturas, ela trocou a ida de carro e, depois de um ano e meio, voltou a andar de ônibus.

A retomada foi carregada de aventura. A primeira condução ela perdeu por “um milésimo de segundo”. Na segunda, uma passageira passou mal e o ônibus foi direto ao pronto-socorro. Já na terceira, a catraca quebrou, o que atrasou a viagem. No entanto, se acostumar ao retorno, ela reflete, não foi difícil. “É tipo andar de bicicleta, não esquece nunca”, ri.

Durante o período mais restrito da quarentena, ela afirma que, além do medo de pegar a Covid-19 e passar para os pais, tinha receio do que as pessoas iriam pensar se soubessem que ela estava se encontrando com amigos. Mas, agora, ela tem saído com maior frequência.

Lugares lotados, Zietlow diz evitar, mas se reúne com amigos, vai ao cinema e a alguns bares e restaurantes. “Aos poucos foi normalizando, ninguém suporta isso por muito tempo”, conclui.

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